A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE,
entidade representativa dos profissionais da educação básica brasileira, torna
pública a sua mais irrestrita solidariedade à professora Márcia Friggi,
brutalmente agredida no último dia 21, na cidade de Indaial, Santa Catarina.
Se não bastasse a agressão física e verbal perpetrada contra
essa educadora por um de seus estudantes, também vítima de todo o abandono
político que padece a educação pública em nosso país, as agressões à professora
Márcia Friggi, de forma surpreendente e estarrecedora, continuaram nas redes
sociais nos dias seguintes ao da agressão. Quando se esperava solidariedade e
clamor público pelo fato ocorrido, extremamente degradante para qualquer
projeto de sociedade que valorize a educação, o que se viu após a agressão
propriamente física e verbal do estudante contra a professora, dentro de uma
unidade escolar, foi a propagação de mensagens de ódio destinadas, pasmem
todos, a própria professora, vítima de toda essa atrocidade.
É claro que esse caso de violência escolar não é o primeiro
e, infelizmente, não será o último. E não o será porque a violência perpetrada
contra essa educadora em Santa Catarina é resultado, sobretudo, do lugar que a
sociedade e os governos colocam a educação. O absoluto descaso com as políticas
públicas de educação, as condições de trabalho a que estão submetidos os
profissionais de educação, sua péssima remuneração, a degradante infraestrutura
das escolas, tudo isso consolida esse estado geral de abandono da educação
pública em nosso país.
Todo esse quadro se agrava com o atual déficit de democracia
por qual passa o Brasil. Ou a Emenda Constitucional nº 95/2016, que congela os
gastos com a educação por 20 anos(!!!) não fomentará mais violência no ambiente
escolar em função do incremento do abandono a que a educação estará ainda mais
sujeita? E o que dizer da Reforma do Ensino Médio (Lei 13.415/2017), que
claramente cria distinções de uma escola para os ricos e outra para os pobres?
E como ficarão os profissionais de educação com a Reforma Trabalhista, quando
passarem a ser contratados de forma terceirizada, ou por meio do trabalho
intermitente, com o fim do vínculo empregatício e de todos os seus direitos?
É evidente que todo esse ataque à educação pública no Brasil
reflete nesse abandono a que os espaços escolares estão submetidos. E lugar
abandonado é local criador e propagador de todo tipo de violência. A professora
Márcia Friggi foi muito feliz quando, em entrevista concedida a uma rádio após
a agressão, áudio esse que viralizou nas redes sociais, afirmou que a própria
sociedade é também responsável por aquela agressão quando, em qualquer
movimento grevista e reivindicatório por melhorias nos salários e nas condições
de trabalho, os/as professores/as transformam-se imediatamente em vagabundos,
na visão da sociedade e da mídia. E para os governos, aos/às educadores/as é
sugerido fazer outra coisa que não lecionar.
É diante de tudo isso, de todo esse conjunto de situações que
forjam esse caldo cultural de abandono da educação pública em nosso país, que
essas agressões não são fatos isolados e, desafortunadamente, tendem a se
reproduzir ainda mais. E isso fica mais evidente diante das reações das pessoas
frente ao ocorrido. É estarrecedor as mensagens de ódio que essa professora
passou a receber em suas redes sociais diante de seu testemunho do ocorrido.
Até figuras públicas de outros estados da Federação, de posicionamento
fascista, se arvoraram ao direito de justificar as agressões diante do
posicionamento político da cidadã Márcia Friggi! Não se pode, então, esperar
muito de uma sociedade que dá eco a esse tipo de conduta e fala. É a total
inversão de valores: a agredida, vítima de toda a situação, passa a ser a
responsável pela agressão a que foi submetida!
Nesse sentido, colocamo-nos de forma absolutamente solidária
ao sofrimento vivenciado pela professora Márcia Friggi! Saiba, professora
Marcia, que os/as educadores/as brasileiros/as, de todos os lugares desse país,
cerram fileiras junto à sua revolta e indignação! Tão importante quanto a
punição ao estudante agressor é a retomada dos bons valores pela sociedade,
pela luta incessante de todos por uma educação pública, de boa qualidade e
socialmente referenciada!! Temos certeza que a agressão por você sofrida doeu
na alma de todos que são verdadeiramente comprometidos e guiados pelos valores
nobres de justiça social e equidade!! Somo todos Márcia Friggi!! Esses casos só
não acontecerão mais quando a educação pública for reconhecida pela sociedade
como o maior instrumento de transformação social, de modo que atitudes desse
tipo não se perpetuem em nosso ambiente escolar! Só a valorização efetiva da
educação pública por parte dos governos garantirá que não tenhamos mais outras
vítimas de tamanha brutalidade!
Brasília, 23 de agosto de 2017
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