Artigo: Educação se faz com respeito e diálogo |
A
escola de tempo integral é uma luta histórica dos educadores
brasileiros. Escola de tempo integral com qualidade, que permita a
formação dos estudantes para a continuidade dos estudos, para o mundo do
trabalho, para a vida. Na qual as atividades decorram do projeto
político pedagógico e se desenvolvam no campo da cultura, dos esportes,
das ciências, do conhecimento, de uma forma prazerosa para todos os
envolvidos. Deve se dar também valorizando os professores, respeitando
seus direitos, bem como os dos estudantes.
Lamentavelmente, não é o que vem
ocorrendo no Estado de São Paulo. A APEOESP acaba de encaminhar ofício
ao Governador Geraldo Alckmin sobre a implantação do projeto Escola de
Ensino Médio Integral na rede estadual de ensino, no qual relata os
diversos problemas que tem ocorrido na efetivação deste projeto,
prejudicando direitos de professores e estudantes.
Há três questões centrais. A primeira
delas é que a Secretaria Estadual de Educação está cometendo uma
ilegalidade, que afronta a Constituição Federal, ao remover ex officio
os professores efetivos das unidades que participam do projeto para que
esses cargos fiquem disponíveis para designação dos professores que
aderirem ao Regime de Dedicação Plena e Integral (RDPI).
Entretanto, pelo artigo 37 da
Constituição Federal, o cargo público é ocupado mediante concurso
público e não designação, a não ser nos casos de direção, chefia,
assessoria e coordenação, o que, obviamente, não é o caso dos
professores. Os professores efetivos, concursados, tomaram posse em
cargo determinado, na unidade escolar que escolheram. Desta forma, a
nosso ver, só podem ser removidos por sua vontade ou com a sua
concordância. A remoção ex officio, neste caso, é não apenas ilegal, mas
representa um violência contra os professores, pois os que não foram
convencidos a aderir ao RDPI vão para escolas distantes, ou ficam à
disposição da Diretoria Regional de Ensino.
Por isso, além de informar o problema ao
Governador, solicitando que interfira para acabar com a intransigência
da Secretaria Estadual da Educação, a APEOESP também informou que está
ingressando com ação judicial para que seja desfeita esta ilegalidade e
que os professores já removidos possam retornar a suas escolas.
Outro problema são os critérios que
determinam que professores podem ou não participar do projeto e a
avaliação periódica para a sua permanência. Veja-se que nos
procedimentos para a escolha desses professores, 40% se constituem de
informações objetivas e 60% são constituídos por uma entrevista! Ou
seja,são escolhidos de forma subjetiva ("perfil") e permanecem ou não na
escola com base em uma avaliação da equipe escolar (mais
subjetividade).
As unidades escolares na quais o projeto
é implantado – e será estendido também para o ensino fundamental –
também são escolhidas de cima para baixo, sendo praticamente uma
formalidade as consultas realizadas com a comunidade escolar. Houve pelo
menos dois casos de escolas que na medida em que foi feita uma consulta
mais ampla e criteriosa as comunidades rejeitaram a proposta. São as
escolas estaduais Monsenhor Jerônymo Gallo, em Piracicaba, e Costa
Manso, na capital.
Um projeto dessa envergadura precisa ser
implementado com diálogo, respeito às comunidades, paciência e uma
concepção educacional sólida. Não pode haver imposição, intransigência e
desrespeito, pois, desta forma, a escola de tempo integral se tornará o
oposto do que se pretende.
Este projeto está sendo tão mal
conduzido que os estudantes, quando consultados, o rejeitam. A imagem
que lhes vem à cabeça, e que infelizmente corresponde ao que até aqui
tem sido feito, é de uma escola de tempo integral na qual são obrigados a
permanecer um maior espaço de tempo, sem que as atividades que se
realizam após as aulas regulares tenham algo a ver com a sua realidade
ou com suas necessidades. Não é isso que queremos. E vamos lutar pela
escola de tempo integral na qual acreditamos.
(Maria Izabel Azevedo Noronha, para o Portal Aprendiz)
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